Esta postagem é também uma resposta ao pedido do amigo e blogueiro Caldeirão de Ideias. Ele colocou um post denso, com várias proposições sobre educação e pediu que comentássemos. Bem, em vez de fazer um jornal lá na página dele, resolvi comentar aqui e partilhar pra todo mundo. Depois de pensar dias a fio sobre suas proposições, minhas vivências como professora de escola pública, meus lidos e sentidos, meus antigos (Alô, Paulo Freire!) e novos (vamos lá, Nicolelis) achados e cheguei a algumas conclusões.
A primeira delas é a mais óbvia. O Brasil vive ainda no século XIX, no que diz respeito à educação. Nossas elites são perversas quanto a isso. Mesmo as escolas feitas para a classe média, são modelo antigo. Pre-histórico. Professores que acreditam que tem alguma coisa a ensinar e gestores que acham que não são professores, apesar de seu vínculo institucional dizer o contrário. A estrutura é ruim, mas essa estrutura ruim é perpetrada na própria Academia. Pesquisadores que nunca estiveram em uma sala de aula, quiçá numa escola, ousam apontar soluções para o ensino. Sim, todos temos problemas de ensinagem. Poucas vezes vi problemas de aprendizagem reais, nas minhas andanças pela educação; mas os problemas de ensinagem, esses foram abundantes.
Segundo ponto a considerar é que, mais de uma década após o início da pesquisa com educação e novas tecnologias no Brasil, ainda estamos falando num futuro onde será maravilhoso incluir tecnologias em nossas aulas. E nada ultrapassa os portões acadêmicos. Nas minhas observações para a pesquisa do Doutorado, onde lanço uma proposta para compreensão das aprendizagens através da ciência Cibernética, me surpreendi positivamente com as realidades educacionais de escolas da Inglaterra. Aqui, não se fala mais em um futuro brilhante onde tecnologias serão lindas, maravilhosas, junto com disciplinas diversas. O futuro já é. Todas as disciplinas mudaram suas linguagens e suas percepções de pesquisa, a internet e a tecnologia já são cotidianamente usadas por professores de artes, filosofia, matematica, línguas, e por aí vai. Aqui, já não se fala mais nisso. O grande ponto é programação (como ensinar linguagem de programação aos alunos dentro de uma abordagem construtivista). Equanto continuarmos discutindo propostas educativas em tecnologias e educação para o futuro, ele nunca chegará.
Aqui, toco em um ponto defendido pelo professor Miguel Nicolelis, em seu livro O Cérebro Relativístico: o nosso grande receio não é o de que a Inteligência Artificial possa suplantar a inteligência humana, pois o cérebro não pode ser reproduzido em uma máquina, um circuito. Nosso receio precisa ser o contrário: que o nosso cérebro, adaptável e aprendente eterno, de tanto interagir com computadores, acabe "imitando" o jeito das máquinas pensar e, assim, percamos habilidades essenciais que nos trouxeram até aqui enquanto raça humana.
Precisamos, então, pensar o Ser, o humano, a máquina, a partir de uma perspectiva holística, ampla, objetiva. Desapaixonadamente, precisamos aprender a, com as máquinas, fazer desse mundo um lugar bem melhor. Para pessoas melhores. E dias melhores.
**English version:
This post is also an answer to the request of friend and blogger Caldeirão de Ideas. He put a dense post with various propositions on education and asked us to comment. Well, instead of doing a newspaper there on his page, I decided to comment here and share it for everyone. After thinking for a couple of days about my propositions, my experiences as a public school teacher, my readings and feelings, my old authors (hello, Paulo Freire!) and new ones (come on, Nicolelis) I came to some conclusions.
The first one is the most obvious. Brazil still lives in the nineteenth century, corncerning to education. Our elites are the Devil about it. Even the schools made for the middle class, are old fashioned. Prehistoric. Teachers who believe they have something to teach and head teachers who think they are not teachers. The structure is bad, but this bad structure is perpetrated in the Academy itself. Researchers who have never been in a classroom, perhaps in a school, dare to point solutions to teaching. Yes, we all have teaching problems. I have rarely seen real learning problems in my wanderings through education; But the teaching problems, these were plentiful.
Second point to consider is that, more than a decade after the beginning of research with education and new technologies in Brazil, we are still talking about a future where it will be wonderful to include technologies in our classes. And nothing goes beyond the academic gates. In my observations for the PhD research, where I launch a proposal for understanding learning through Cybernetics, I was positively surprised by the educational realities of schools in England. Here, we no longer talk about a bright future where technologies will be beautiful, wonderful, along with diverse disciplines. The future is now. All disciplines have changed their languages and their research perceptions, the internet and technology are already daily used by teachers of arts, philosophy, mathematics, languages, and so on. Here, the big aim is programming (how to teach programming language to students within a constructivist approach). As long as we continue to discuss educational proposals in technology and education for the future, it will never come.
Here I bring point defended by Professor Miguel Nicolelis in his book The Relativistic Brain: our great fear is not that Artificial Intelligence can supplant human intelligence, because the brain cannot be reproduced in a machine, a circuit. Our fear must be the opposite: our brain, adaptable and ever learning, from interacting with computers, will "imitating" the way machines think, and thus we lose essential skills that have brought us here as a human race.
We need, then, to think the Being, the human, the machine, from a holistic, broad, objective perspective. Disappointingly, we need to learn how to make the world a better place with machines. For better people. And better days.