English version:

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Tecnologias em sala de aula: coisa do futuro? **English Version

Esta postagem é também uma resposta ao pedido do amigo e blogueiro Caldeirão de Ideias. Ele colocou um post denso, com várias proposições sobre educação e pediu que comentássemos. Bem, em vez de fazer um jornal lá na página dele, resolvi comentar aqui e partilhar pra todo mundo. Depois de pensar dias a fio sobre suas proposições, minhas vivências como professora de escola pública, meus lidos e sentidos, meus antigos (Alô, Paulo Freire!) e novos (vamos lá, Nicolelis) achados e cheguei a algumas conclusões.
A primeira delas é a mais óbvia. O Brasil vive ainda no século XIX, no que diz respeito à educação. Nossas elites são perversas quanto a isso. Mesmo as escolas feitas para a classe média, são modelo antigo. Pre-histórico. Professores que acreditam que tem alguma coisa a ensinar e gestores que acham que não são professores, apesar de seu vínculo institucional dizer o contrário. A estrutura é ruim, mas essa estrutura ruim é perpetrada na própria Academia. Pesquisadores que nunca estiveram em uma sala de aula, quiçá numa escola, ousam apontar soluções para o ensino. Sim, todos temos problemas de ensinagem. Poucas vezes vi problemas de aprendizagem reais, nas minhas andanças pela educação; mas os problemas de ensinagem, esses foram abundantes. 
Segundo ponto a considerar é que, mais de uma década após o início da pesquisa com educação e novas tecnologias no Brasil, ainda estamos falando num futuro onde será maravilhoso incluir tecnologias em nossas aulas. E nada ultrapassa os portões acadêmicos. Nas minhas observações para a pesquisa do Doutorado, onde lanço uma proposta para compreensão das aprendizagens através da ciência Cibernética, me surpreendi positivamente com as realidades educacionais de escolas da Inglaterra. Aqui, não se fala mais em um futuro brilhante onde tecnologias serão lindas, maravilhosas, junto com disciplinas diversas. O futuro já é. Todas as disciplinas mudaram suas linguagens e suas percepções de pesquisa, a internet e a tecnologia já são cotidianamente usadas por professores de artes, filosofia, matematica, línguas, e por aí vai. Aqui, já não se fala mais nisso. O grande ponto é programação (como ensinar linguagem de programação aos alunos dentro de uma abordagem construtivista). Equanto continuarmos discutindo propostas educativas em tecnologias e educação para o futuro, ele nunca chegará.
Aqui, toco em um ponto defendido pelo professor Miguel Nicolelis, em seu livro O Cérebro Relativístico: o nosso grande receio não é o de que a Inteligência Artificial possa suplantar a inteligência humana, pois o cérebro não pode ser reproduzido em uma máquina, um circuito. Nosso receio precisa ser o contrário: que o nosso cérebro, adaptável e aprendente eterno, de tanto interagir com computadores, acabe "imitando" o jeito das máquinas pensar e, assim, percamos habilidades essenciais que nos trouxeram até aqui enquanto raça humana. 
Precisamos, então, pensar o Ser, o humano, a máquina, a partir de uma perspectiva holística, ampla, objetiva. Desapaixonadamente, precisamos aprender a, com as máquinas, fazer desse mundo um lugar bem melhor. Para pessoas melhores. E dias melhores.






**English version:

This post is also an answer to the request of friend and blogger Caldeirão de Ideas. He put a dense post with various propositions on education and asked us to comment. Well, instead of doing a newspaper there on his page, I decided to comment here and share it for everyone. After thinking for a couple of days about my propositions, my experiences as a public school teacher, my readings and feelings, my old authors (hello, Paulo Freire!) and new ones (come on, Nicolelis) I came to some conclusions.
The first one is the most obvious. Brazil still lives in the nineteenth century, corncerning to education. Our elites are the Devil about it. Even the schools made for the middle class, are old fashioned. Prehistoric. Teachers who believe they have something to teach and head teachers who think they are not teachers. The structure is bad, but this bad structure is perpetrated in the Academy itself. Researchers who have never been in a classroom, perhaps in a school, dare to point solutions to teaching. Yes, we all have teaching problems. I have rarely seen real learning problems in my wanderings through education; But the teaching problems, these were plentiful.
Second point to consider is that, more than a decade after the beginning of research with education and new technologies in Brazil, we are still talking about a future where it will be wonderful to include technologies in our classes. And nothing goes beyond the academic gates. In my observations for the PhD research, where I launch a proposal for understanding learning through Cybernetics, I was positively surprised by the educational realities of schools in England. Here, we no longer talk about a bright future where technologies will be beautiful, wonderful, along with diverse disciplines. The future is now. All disciplines have changed their languages ​​and their research perceptions, the internet and technology are already daily used by teachers of arts, philosophy, mathematics, languages, and so on. Here, the big aim is programming (how to teach programming language to students within a constructivist approach). As long as we continue to discuss educational proposals in technology and education for the future, it will never come.
Here I bring point defended by Professor Miguel Nicolelis in his book The Relativistic Brain: our great fear is not that Artificial Intelligence can supplant human intelligence, because the brain cannot be reproduced in a machine, a circuit. Our fear must be the opposite: our brain, adaptable and ever learning, from interacting with computers, will "imitating" the way machines think, and thus we lose essential skills that have brought us here as a human race.
We need, then, to think the Being, the human, the machine, from a holistic, broad, objective perspective. Disappointingly, we need to learn how to make the world a better place with machines. For better people. And better days.

A lição de Marx que a esquerda nunca aprendeu **English version

Dia desses, estava relendo o Barbudão, Karl Marx, pra relembrar umas coisinhas e ver estrategicamente, quais foram os grandes erros da esquerda, desde a Era Lula. Bem, nem precisei ler os oito tomos de O Capital. Logo de início achei a resposta.
Marx falava em revolução. Enfim, para que pudéssemos ter oportunidades iguais, seria necessário que os pobres, através de assembleias, decidissem o que seria melhor para todos. Só que, para uma revolução como essa acontecer, são necessárias algumas condições. E a PRIMEIRA delas é consciência de classe, que é  “… a consciência do que o proletariado é e do que ele será obrigado a fazer historicamente de acordo com o seu ser. Sua meta e sua ação histórica se acham clara e irrevogavelmente predeterminadas por sua própria situação de vida e por toda a organização da sociedade burguesa atual”. É a consciência mais ampla do ser, enquanto classe trabalhadora: sua importância na engrenagem capitalista e, mais ainda, a consciência de que, sozinho, é uma peça descartável; mas, enquanto grupo, unido ao seus pares, é essencial ao Capitalismo que não cruze os braços e, mais ainda, que continue consumindo seus produtos. 
Bem, é aí que estamos errando. Não é possível uma mudança social profunda no Brasil porque as elites não permitem que a nossa classe trabalhadora adquira consciência de classe. Todas as iniciativas nesse sentido são eliminadas na raiz, e a classe trabalhadora é iludida com um discurso perverso de que já tem direito a tudo, ou que basta "se esforçar" para ter tudo. Os professores são mal formados porque se estes adquirirem consciência de classe, são formadores de opinião nas salas de aula e podem alertar a cabecinha dos jovens para a consciência de que, como dizia Cazuza, você não vai ser convidado para a festinha VIP da elite, jamais. 

A direita política aprendeu bem a lição de Marx. Tanto é que, não permite que a classe trabalhadora chegue à consciência de pertencimento a uma categoria. Para as elites, é bom que o pobre acredite-se classe média e o cidadão de classe média, veja-se como parte da elite. E as esquerdas não aprenderam que não basta querer mudar e "meter as caras". O povo, sem consciência, não vai aderir à empreitada e daremos com os burros n'água, ao contrário do que pensam os PSOListas: para eles, basta "querer". É preciso começar do início.
Já vi muitas situações como essa no movimento sindical, ao qual aderi há exatos 23 anos. Os professores não querem aderir à greve porque não querem pagar aulas nas férias. Ou por outro motivo qualquer. E a greve por direitos legítimos acontece com meia dúzia de professores que serão perseguidos após o retorno às aulas. Seria impossível perseguir toda uma categoria, se todos aderissem à greve. Trocar todos de lugar. Demitir a todos.




Para encerrar, deixo os versos do meu querido Chico Buarque nos Saltimbancos:

"Todos juntos somos fortes
somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco
não há nada pra temer
- ao meu lado há um amigo
que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes
não há nada pra temer"


**English version:

I was reading Karl Marx, to review a few things and see strategically, what were the great mistakes of the left-winged political parties since the Lula's government. Well, I did not even need to read the eight volumes of The Capital. Right from the start I found the answer.
Marx talked about revolution. For working class have equal opportunities, it would be necessary for the poor, through assemblies, decide what would be best for all. In other words, they have to be the government. But before a revolution like this take place, some conditions are necessary. And the first of them is class consciousness, which is "... the consciousness of what the working class is and what it will be obliged to do historically according to its being. Its goal and its historical action are clearly and irrevocably predetermined by its own situation of life and by the whole organization of present society. " It is the broader consciousness of belonging to a working class: its importance in the capitalist gear, and, moreover, the awareness that he/her is a disposable piece by themselves; But as a group, united with its peers, it is essential to Capitalism that they does not cross the arms and, even more, that it continues consuming its products.
Well, that's where we're going wrong. A profound social change in Brazil is not possible because the elites do not allow our working class to acquire class consciousness. All initiatives in this direction are eliminated at the root, and the working class is iluded with a perverse discourse that they already have the right to do anything, including participating in important decisions in their country. Teachers are poorly trained because if they become class-conscious, they are opinion-formers in classrooms and can alert the youngsters' heads to the awareness that, as Cazuza said, you will not be invited to the elite VIP party, ever.

The political right-wing learned the lesson of Marx well. They do not allow the working class to come to the consciousness of belonging to a category. For elites, it is good for them if working class believe that they belong to middle class and, moreover, if middle class citizens see themselves as part of the elite. And the left-wingeds have not learned that it is not enough want to change and "just move". People, without conscience, will not join the enterprise and we will always be victims of coups. We must start at the beginning.

I have seen many situations like this in the trade union movement, which I joined for exactly 23 years. Teachers do not want to join the strike because they think is boring. Or some other reason. And the strike for legitimate rights happens with half a dozen teachers who will be persecuted after their return to school. It would be impossible to pursue an entire category if everyone joined the strike, or change all of them, maybe dismiss all. We would be stronger. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O ódio aos direitos das mulheres **English version below

Bem, hoje eu quero falar um pouco sobre feminismo e por que ele irrita tanto os machões. É que depois de um longo tempo sem acessar o   Blog da Lola, eis que hoje resolvi colocar as leituras em dia. Me espantei quando percebi que tiraram o blog de circulação. Para quem não sabe, o Blog da Lola é dedicado ao feminismo e trata de vários temas ligados ao movimento. 

        Aparentemente, alguns machões ficaram irritadinhos com os posts da professora universitária que escreve o blog feminista. E foi assim que meia dúzia de malucos conseguiram que se retirasse  o blog da professora de circulação: criando um script que "engana" o Google.
         O que me choca, nisso tudo?  Bem, eu nasci em 1971. Um pouquinho só de tempo depois que aquelas moças queimaram sutiãs nas praças pedindo por igualdade de direitos. Minha geração ferveu naquele mesmo caldeirão, e eu realmente não entendo o que se passa na cabeça invariavelmente vazia de uma mulher que defente a opressão masculina como sendo "normal". Não entendo como pode se querer retirar de circulação um blog, ou qualquer outro meio midiático, que faz bem a muitas mulheres, inclusive orientando-as contra o abuso e indicando caminhos para uma retomada de vida. Esse tipo de denúncia só se justifica se o denunciante for um abusador ou coisa que o valha.
         Como todos sabem, venho de uma cultura latina misógina. Já vi realidades chocantes: a mulher que apanha do marido a noite e pela manhã redobra a maquiagem para ninguém "pensar mal" de seu querido; aquela que trabalha, sustenta o marido e os filhos que ele tem com as amantes; aquela que acha que é a única responsável pelo sucesso ou fracasso de seu casamento e por aí vai. Contutas abusivas, de todas as formas, podem se ver facilmente todos os dias, contra mulheres de todas as idades.
          Então, passamos da esfera da defesa meramente das ideias do tipo "sou feminista" OU "sou capacho de homem" para a esfera onde sujeitos que praticam todo tipo de violência contra a mulher se sentem ameaçados por uma mulher mais consciente e politizada. Sim, "seja feminina, não feminista", repetiam os machões da minha geração. E algumas mulheres acreditam mesmo que para serem femininas não devem ser feministas, como se uma coisa excluísse a outra. E as pessoas têm preguiça de ler e pesquisar, se aprofundar e emitir uma opinião fundamentada em seu próprio senso crítico, então emitem uma opinião baseada em factóides.
           Tenho certeza que as pautas feministas - como por exemplo violência doméstica, abuso sexual, erotização da infância, igualdade de direitos e deveres, entre tantos outros tópicos, não são estranhos nem sequer injustos. O que quer, então, uma criatura que se diz contra o feminismo? O pior de tudo é ver mulheres se dizendo contrárias a idéia de igualdade entre os gêneros.
         E não me venha dizer que "já que você luta por direitos iguais, vá carregar aquele freezer sozinha!". Eu lhe direi que posso, sim, eu e tantas outras carregar o freezer juntas. E que isso não nos faz melhores que você, nesse caso. Ok?

**** English version:



     Well, today I need to talk a little about feminism and why it bothers the "macho men" so much. After a long time without reading the Lola's Blog, today I decided to get the posts readings up to date. I barely could believe when I realized they removed her blog. For those who do not know it, Lola's Blog is dedicated to feminism and deals with various subjects related to the movement.

        
Apparently, some "macho" were annoyed by the  University professor
's posts who writes the feminist blog. And that's how a half of a dozen freaks got the blogger's removed: creating a script that "cheats" Google.

         
What shocks me in all this? Well, I was born in 1971. Just a little while after those girls burned bras in the squares asking for equal rights. My generation boiled in that same cauldron, and I really do not understand what goes on in the empty head of a woman who defends male oppression as "normal." I do not understand how you can want to remove a blog, or any other media, that is good for many women, including guiding them against abuse and bringing some options for a fresh start. This type of complaint is justified only if the complainant is an abuser or something that worth it.

     
In my entire life, I have seen shocking realities: the woman who has been hurted from her husband at night and in the morning makes a stronger makeup so that no one "thinks badly" of her beloved; that other woman who works and brings money to her husband and his children with his lovers; The other one who thinks she's the only one responsible for the success or failure of her marriage, and so on. Abusive behaviour, by all means, can be easily seen every day, against women of all ages.

        
So we move from just ideas such as "I am a feminist" or "I am a man's doormat" to that place  where "macho" practices all kinds of violence against women feel threatened by a more conscious and politicized woman. Yes, "be feminine, not feminist," repeated the machoes of my generation. And some women even believe that in order to be a "good woman" they should not be feminists, like  one thing should exclude other. And people are lazy to read and research, go deep into and issue an opinion grounded in their own critical sense, then issue an opinion based on factoids.

           
I am sure that feminist guidelines - such as domestic violence, sexual abuse, childhood eroticization, equality of rights and duties, among so many other topics, are not strange or even unfair. What want a person wo claims to be "against feminism", then? The worst thing is when we see another woman claiming to be against the idea of ​​gender equality.

         
And do not tell me that "since you fight for equal rights, go carry that freezer by yourself!" I'll tell you that I can, yes, with many others women, carry the freezer together. And that does not make us better than you, in that case. OK?


domingo, 1 de janeiro de 2017

Porque é preciso falar sobre a dor... **English version below



             Recentemente, vi amigos queridos perderem pessoas importantes em suas vidas. Vi-me em um ciclo de dor, também, onde fui separada de meus filhos e tive que trabalhar em outro país. Vi muita coisa se desfazer na minha frente, nos últimos dois anos, e ainda sinto que algumas perdas doem bastante. Fico me perguntando: por que evitamos tanto falar sobre nossas dores?
             As dores, as perdas, os fracassos trazem a tona nossas fragilidades. E nós não gostamos nada de ser vulneráveis. Em um mundo volátil, importa parecer feliz e bem. Mas, e se eu não estiver bem? E se eu quiser que aquela dor doa até o fim, para ver se ela vai embora? Quem sabe, consigo respirar de novo e me levantar...
            A grande questão é que o mundo não para a fim de que você junte os pedaços e recomece novamente. Não. Você precisa seguir em frente, com suas dores e apesar delas, e precisa ainda parecer feliz e bem. Não é fácil. Ver os cantos vazios, antes ocupados por uma pessoa que você sabe que não volta mais, nunca mais, e ter que conviver com aquilo... dia após dia... é uma sensação muitas vezes insuportável. As grandes perdas normalmente nos deixam sem chão. Atordoados. A única forma de fazer com que a dor vá embora é sentindo-a até o fim.
          Como postei na timeline de uma amiga querida dias atrás, sentindo essa dor, ela vai ficando menos intensa, aos poucos. Cada bocado de tempo, colabora para que ela diminua. Uns levam uns meses, outros levam anos. Cada um tem seu tempo. Até você ver que dá pra respirar. Depois ela diminui mais um pouco e você já pode ir a alguns lugares sem derramar-se toda... até que um dia você percebe que ela (a dor) ainda está lá, mas em forma de lembrança. Aquela coisa tão dolorida é agora parte de suas memórias e recordações, algo para se guardar no coração. 
            Outra ilusão é a de que as pessoas que foram importantes e partiram devam ser apagadas da memória pois assim evitaríamos o sofrimento. Como poderíamos extinguir para sempre a doce memória de alguém que nos fez bem? A memória de alguém que fez parte de nossa história de vida é alguém que deva ser respeitada por todos aqueles que dizem nos amar. 
         E, por último, sigamos adiante. Porque a vida não para e todos aqueles que nos amaram e partiram gostariam de ver-nos bem. Ou, como diz Cora Coralina em seus versos lindos:
          “É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.”
          Esse post é dedicado às amigas Lilly DiCine e Tay de Oliveira, cujas mães, este ano, viraram estrelinhas. Também já tive uma segunda mãe que virou estrelinha, há um tempo atrás.


********** English version:


Recently, I have seen dear friends lose important people in their lives, they became really sad after parent's death. I saw myself in a cycle of pain, too, where I was separated from my children and had to work in another country. I have seen a some things fall apart in the last two years, and I still feel like some of that ruined world hurt me a lot. So, why do we avoid talking so much about our pains?
             
The pain, the gaps, the failures bring out our fragilities. And we do not like being vulnerable at all. In a volatile world, the only thing that matters is to look happy and well. But what if we are not well? And if  we want to bear that pain so deeply, just to see if it goes away? Who knows, we could breathe again and get up ...
           
The world does not stop to you collect your broken pieces and start again. No. You need to move on, with your pains and despite them, and you still need to look happy and well. It's not easy. Look at the empty corners, once occupied by a person that you know does not come back, never again, and have to live with it ... day after day ... is an often unbearable sensation. Big pain usually leave us with no floor. Stunned. The only way to make the pain go away is to feel it to the end.
          
As I posted on the timeline of a dear friend days ago, feeling this pain, it goes less intense, a bit every day. Every bit of time helps to make it not so painful. Some people demands take a few months, others take years. Until you realize you can breathe. Then it slows down a bit and you can go to some places without crying... One day you realize that it (the pain) is still there, but in remembrance form. That painful thing is now part of your golden memories and they are something to keep in your heart.
            
Another usual mistake is to think that people who passed away should be removed from our memories so we could avoid suffering. How could we delete forever the sweet memory of someone who has brought so happy moments to us? The memory of someone who has been part of our life is something to respect by all those who claim loving us.


         
And finally, let's move on. Because life does not stop and all those who loved us and passed away would like to see us well. Or, as Cora Coralina says in her beautiful verses:


          
"There is more road to walk in my eyes than tiredness in my legs, more hope in my steps than sadness in my shoulders, more road in my heart than fear in my head."
          
 

This post is dedicated to friends Lilly DiCine and Tay de Oliveira, whose mothers this year have become little stars. I also had a second mother who became a little star, a while back.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Mulher, tome freio!! **English version below



Há alguns dias, um ser de um Planeta longínquo me mandou "tomar freio". Ora, apesar de ser um homem, coxinha, religioso, militar e completamente incapaz de entender o mundo a sua volta, refleti sobre o desejo que me parece comum por parte não só de homens coxinhas, mas de toda a sociedade, inclusive mulheres parecem concordar com isso: mulheres devem permanecer "freadas".          
Não, isso não é um subproduto da guinada ultraconservadora que o mundo deu no ultimo ano, isso é uma marca do caráter misógino de nossa sociedade. Espera-se que a mulher "se ponha no lugar dela", que não fale palavrão, que seja feminina, decorada, até inteligente - mas não muito - que colabore com os homens que cruzam sua vida, mas nunca lhes ofereça resistência. Que ela seja, em outras palavras, um mimo! Mas, aí é que esta o grande problema: e se eu não quiser ser um mimo?


       A resposta a essa pergunta, Madonna já deu quando fez seu discurso para a Billboard, como Mulher do Ano: "Se você é uma mulher, você tem que entrar na dança". Sim, você tem que parecer
bonita e feliz. E tem que tomar freio, porque homens não têm freio, mas você tem. Homens podem fazer o que lhes bem convier, do jeito que bem quiserem, mas você não. E por que não? Porque você é mulher. Espero que você possa perceber a ironia e a perversidade dessa justificativa.

       Então eu resolvi não ser um mimo. Resolvi ser uma cientista, feminista, comunista. Resolvi ser mar revoltoso, que pode tragar navios desavisados. Sim, sou força da natureza e isso não faz de mim uma pessoa má. Posso ser uma onda suave, também: gosto de cozinhar, fazer meu artesanato, cuidar de meus filhos e andar de mãos dadas com meu amor sob a lua cheia. A única coisa que não posso ser é como você quer que eu seja.


        O mais bizarro nisso tudo e que tem mulher que vai concordar com o discurso machista: mulher tem que ficar na sua. Sem palavrão. Sem exageros. Sem alegria. Sem vida. Sem tesão. Uma mulher linda, decorativa, estúpida e assexuada. Não, queridos... eu quero mais da vida.
******************************* English version: "Woman, step back!"
 A few days ago, an Alien from a distant Galaxy told me to "step back". Now, despite being a man,  fanatic religious, and completely incapable of understanding the world around him, I reflected on that desire which seems to be usual, not only by men who are stupid, but also by the whole of society, including women, that is: women must remain "back".

    

  No, this is not a product from the ultraconservative movements the world's societies has made in the last year. This is a trace of our misogynistic society. From a woman, is expected to "put herself in the right female place," not to swear words, to be feminine, decorative (like a biscuit), even intelligent - but not too much - to collaborate with men who cross their lives, but never offer them resistance. Just be, in other words, a gift! But, here is the big problem: what if I do not want to be a treat?

       
The answer to that question, Madonna already gave when she made her speech to the Billboard, as Woman of the Year: "If you are a woman, you have to play the game." Yes, you have to look beautiful and happy. And have to remain braked, you know men have no brake, but you have. Men can do whatever pleases them, just the way they want them to, but you do not. And why not? Because you are a woman. I hope you can see the irony and perversity of this.


       
So I decided not to be a treat. I decided to be a scientist, feminist, communist. I decided to be a ​​revolted
sea, which can swallow unsuspecting ships. Yes, I am a force of nature and it does not make me a bad person. I can be a gentle wave, too: I like to cook, make my handicrafts, take care of my children and walk with my love under the full moon. The only thing I cannot be is how people demand me to be.

        
The most bizarre in all this is that has women who will agree with the "macho" discourse: women has to stay in their places. No swearing. No exaggeration. No joy. Without life. Not horny. A beautiful, decorative, stupid, asexual woman. No, dear ones ... I want more from life.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Voltei!!!

    *English version below

    Olá, pessoal!! *

      Eis-me aqui, de volta à blogosfera. Depois de um longo tempo sem escrever, depois de ter deletado os meus antigos blogs, sinto a necessidade de expor meus pensamentos de forma mais longa, em textos um pouco mais complexos. É que o mundo anda muito doido, sabe? Vimos a queda de governos legítimos, o clamor por governos ultraconservadores de direita e ainda assim nadamos no mar da Cultura Digital, onde tudo é líquido, pronto a se "desfazer" a qualquer momento...
     Escrever me ajuda a entender esse mundo louco. Preciso entender como uma mulher, que até três décadas atrás não teria metade dos direitos que tem hoje, apoia o fim de movimentos feministas; não consigo processar como uma pessoa de classe média clama pela volta da Ditadura Militar, ou vota em Donald Trump para presidente. Não sei onde vamos parar. Porém, certamente, a guinada à direita deu uma cara nova à truculência humana, e os loucos e fanáticos estão cada vez mais agitados. Oremos!
Passeata pedindo a volta da ditadura militar.


Mundo líquido
     Zygmunt Bauman trouxe para nós a definição de Mundo líquido ou Modernidade líquida. Segundo ele, a nossa sociedade digital dissolve tudo o que é sólido para, ao contrário de sociedades anteriores à nossa (que substituíram seus modelos "sólidos antigos" por modelos "sólidos modernos" e, consequentemente, mais eficazes), nossa sociedade substitui o sólido pelo efêmero, criando um ciclo de inconstância.
       Aqui, cabe a pergunta: não seria o excesso de tanta liquidez, que faz com que o mundo clame por um retrocesso - o famoso lugar quentinho, dentro da Caverna de Platão? Talvez, quem sabe? Posso pensar que isso seria uma marca no inconsciente coletivo da população, uma mola propulsora que teima em voltar atrás. Por outro lado, se é por excesso de liquidez que os homens buscam os modelos mais rígidos e antigos, por que então não abandonam o símbolo máximo da nossa era - a internet? Acho, ainda, que esse buraco é mais embaixo. E mais profundo. 
Mito da Caverna de Platão

***************** English version:

Hello, people!



      Here I am, back to the blogosphere. After a long time without writing and deleted my old blogs, now I feel the necessity to expose my thoughts in a longer way, in slightly more complex texts. It's just because the world is going crazy, you know? This year we have seen some silly wars, coups in democracy, and the people voting for ultra-conservative governments. Also, we swim in the sea of ​​Digital Culture, where everything is liquid, ready to "disappear" at any moment ...
    Writing helps me understand this crazy world. I need to understand how can some women,  support the end of feminist movements; I cannot process how a middle class person calls for the return of the Military Dictatorship, or vote for President Donald Trump. I do not know what is going to happen from now. But surely, the "turn to right [wing]" gave a new face to the human truculence, and crazy, fanatic people are more and more agitated. Let's pray!
  
Book "Liquid Modernity", from Zigmunt Bauman
   
Zygmunt Bauman has brought to us the definition of Liquid World or Liquid Modernity. According to him, our digital society dissolves everything (specially relationships) that is solid, 
replacing the solid by the ephemeral, creating a cycle of inconstancy. Other societies before our own have replaced their "old solid" models with "solid modern" and therefore more effective models.
       Here is the question: would not it be the excess of liquidity that makes the world cry out for a throwback - the well-known hot place, inside Plato's Cave? Maybe who knows? I can think that this would be a reference for the population, a propulsive force that makes people try to come back to a safer place. On the other hand, if it is by excess of liquidity that men seek the most rigid and ancient models, why then do they not abandon the ultimate symbol of our era - the internet? I suppose we have a more complex and deeper problem to face in the next couple of decades.